quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Breve auto-reflexão sobre o Eu

Quem sou EU?

Sou aquele que por momentos sente-se acabado e dono do mundo!
Dono do MEU mundo.
Do meu mundo que gira ao redor do meu umbigo,
embora tenho olhares para o mundo.
Quando alguém me observa, este sabe quem EU sou?
Mas eu sou...
Eu tenho personalidade...(Tenho?)
Eu tenho um jeito de ser...(Qual é?)
Eu sou mais EU...(Em que aspectos?)
Eu contemplo o mundo e por muitas vezes me desespero diante dele;
ao mesmo tempo que me encanto com tantas possibilidades.
EU SOU SENTIMENTO e ENIGMA.
Sou quem sou . Nem sempre sou que pensam que sou; e por vezes nem mesmo eu sou o que eu mesmo penso que sou. Algumas vezes sou quem pensam que sou.
Eu sou EU e agradeço por ser diferente de você e digo mais:
Quem bom que você é você...


A EXISTÊNCIA

O ser humano tem de comum com os demais seres o fato de que ele simplesmente é. A planta é, o animal é, a pedra é. Nós também somos.
Portanto, bastaria ser efetivamente para existir!
“A existência corresponde à realidade singular, ao homem singular; ela permanece fora do conceito que, de qualquer forma, não coincide com ela. Para um animal singular, uma planta singular, um homem singular, a existência(ser ou não ser) é algo decisivo” (Kierkegaard).
Mas há uma grande diferença no modo de ser!
O ser humano nasce sem pedir para nascer. Não sou eu que decido se vou nascer ou não e muito menos se quer nascer ou não. O ser humano nasce e parte para a pesquisa do viver. A vida do ser humano vai além do nascer, vai além do ser homem, porque a vida do homem é transcendência.
O ser humano distancia-se dos demais seres que vivem um determinismo natural, porque cada homem é o gestor da sua própria vida. O nascimento do ser humano é uma facticidade, mas ele possui uma vontade de realizar muito mais do que apenas ser um homem. Na sua transcendência o ser humano transforma o seu existir numa busca de sonhos e projetos de vida, e dá origem ao fenômeno que chamamos de existência.
Para existir não pasta ser. Existir impele-nos a transformar a nós mesmos em seres existentes através da transcendência.
A existência nos leva a compreender com clareza que o ser humano não é um dado feito, mas um encargo, uma tarefa de ser! Um risco de ganhar-se ou de perder-se. “O ser humano é possibilidade, ele pode no seu ser ou escolher-se e conquistar-se, ou então perder-se, ou seja, não conquistar-se, ou conquistar-se só aparentemente., Sendo sempre eu, o poder-ser (humano) é livre para a autenticidade e a inautenticidade ou ainda para um modo de indiferença.” (Heidegger)
È sobre tudo no ato de pensar que o ser humano sinaliza o projeto de seu ter-que-ser. Eu penso, logo existo. Na atividade de pensar em si mesma em si mesmo, sem recursos externos, descortinamos nossas possibilidades de ser e consumamos nosso relacionamento com a realidade.
A existência nos leva a compreender que o humano é ser-em-situação, vinculado ao mundo, submetendo-se às condições do mundo. O homem necessita enraizar-se no mundo.
“A existência é movimento pelo qual o homem está no mundo, comprometendo-se numa situação física e social que se torna sua visão do mundo” (Merleau Ponty)
Muitas vezes estamos assustados, angustiados e até perdidos neste mundo, mas no movimento do nosso pensar é que fundamentamos o nosso existir, porque a partir daí construímos nossa vida optando por isso ou aquilo. O homem tem a possibilidade de poder-ser. O homem experimenta o mundo construindo seu viver juntamente com as outras pessoas e assim constrói seu existir.
A existência não se esgota na compreensão de viver necessariamente na circunstância mundo, nem na compreensão de risco de ganhar-se e de perder-se. Ele ainda se compreende como ser-para-a-morte.
O ser-para-a-morte abre a existência para outro porvir, transcendente a si e ao mundo. Nos damos conta que somos um ser-que-espera. Não como alguém que espera o ônibus na rodoviária, mas como alguém que espera o inesperado.
Este inesperado nos leva a pode-ser algo diferente da existência no mundo. Deixamos de ser existente nesta realidade para sermos o inesperado.
Esse inesperado poderia ser ‘Deus’?
“Somente a partir da verdade do Ser pode-se pensar a essência do sagrado. Somente a partir da essência do sagrado pode-se pensar a essência da divindade. Somente na luz da divindade pode-se pensar e dizer o que a palavra ‘Deus’ pretende significar” (Heidegger)
O próprio ser humano e a sua existência é um enigma, logo o inesperado faz parte deste enigma, como se a nossa existência espera por um segredo maior.
O existir humano é uma construção, um desenvolvimento em si mesmo para um inesperado.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ser Educador.

Há quem trate a palavra “educador”, como sinônimo de professor, e com isso limita a real magnitude deste conceito e a complexidade que a envolve.
Ser professor é um termo muito ligado ao ensinar e aprender. O professor é aquele que sabe a matéria e ensina ao aluno que não sabe. Este é um conceito tradicional do que se entende por professor; e não podemos negar que é este o entendimento que a maioria das pessoas possui do termo.
Outros usam as duas palavras juntas (professor-educador) somando assim os dois termos e mudando o significado.
A palavra “educador” traz um conceito abrangente, e determina a pessoa que ensina através de ações práticas e reflexivas.
São as ações práticas que levam a reflexão, e a reflexão transforma-se em novas práticas.
Aprendemos a partir do ambiente em que vivemos, e por aquilo que vemos (aqui entra todos os sentidos), somados a reflexão.
Neste momento faço a reflexão sobre a reflexão: Que educadores que somos?
Há necessidade de educarmos a partir da realidade, re-pensando nossas ações. O que acontece é que as boas reflexões, e a realidade em si, muitas vezes não são valorizadas.
Por exemplo: Como os pais irão criticar um X desenho animado? É o desenho animado quem traz entretenimento aos seus filhos enquanto estes trabalham e até mesmo quando os pais preferem que seus filhos fiquem em frente da televisão, para não serem incomodados.
Educador é aquele que se envolve no meio em que vive buscando saídas! Educar não significa ser moralista! Educador requer análise constante de tudo que acontece, ou seja, possuir 24h o olhar clínico a fim de filtrar e sintetizar o correto, diferenciando-o do incorreto; e a partir daí ter a capacidade de tornar seu pensar e agir um ato reflexivo no seu ambiente de convivência.
O educador cria em si a competência de estar constantemente buscando diferenciar o que é certo do que é errado, o que enriquece do que deteriora. Educador é toda a pessoa que está atenta (para não ser enganada por uma maquiagem teatral que incute falsos valores) e que têm por compromisso ajudar as outras pessoas a buscarem a verdade.
Careta é se omitir frente à falsidade e ao erro apenas pelo medo de não fazer parte de um grupo, ou de não ser aprovado pelas pessoas com quem tenho convívio, ou até mesmo por sentir-se "diferente" quando está caminhando na rua.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

1.6 - Antropologia Helenística (séc. III - I a.C)

Neste período houve o advento do indivíduo ao centro da reflexão filosófica, conseqüência do declínio e fim da polis grega.
Na época anterior o centro era a polis, uma comunidade soberana na qual o indivíduo sentia-se integrado. Com o fim da polis o indivíduo teve que procurar outra forma de vida associativa, nas quais possa ser encontratada a resposta para o problema da eudaimonía (viver feliz; prazer verdadeiro (hedoné)).
As duas grandes escolas da idade helenística são o Epicurismo e o Estoicismo.
- Epicurismo: Inspiração no materialismo atomista de Demócrito, opondo-se ao intelectualismo platônico-aristotélico.
[* O homem é um ser-que-sente.]
A lógica epicurista: O conhecimento humano começa e termina na sensação (aisthesis) que pode desdobrar-se em "antecipações" ou "representações" mentais e em sentimentos de pensa e prazer. Estes desdobramentos originaram a opinião, que é, no homem, a fonte do erro.
Para os epicuristas a psyché é um agregado de átomos (algo físico).
A ética eminente teleológica e eudaimonista reside na serenenidade de ânimo, ausência de temor, e sabedoria para avalisar os verdadeiros prazeres.
Há uma desvaloriação da vida política. A "vida escondida" é exaltada e enriquecida pela amizade (philía).
A eudaimonia é alcançada por uma razão reta (lógica), uma compreensão do universo corretamente (física), e por uma ação humana que seja dirigida para o verdadeiro fim (Ética).
- O Estoicismo: O centro está no problema do indivíduo. Busca definir as condições do "viver feliz" (eudaimonía) e dentre estas, aquelas que tornam-o independente(autárkeia). A Filosofia é o caminho.
Para os estóicos, a psysis (natureza) é o logos (razão) universal unindo todos os seres. Em torno do
logos organiza-se as três dimensões do conhecimento:
+ Conhecimento da verdade (Lógica);
+ Conhecimento da
physis (Física);
+ Conhecimento do fim (Ética);
Esta escola teve inspiração do intelectualismo socrático. o uso da razão (
logos) é posto como primazia.
*Ética estóica: Conformação à
physis, detentora do logos imanente.
O estudo da paixões (
pathê) tem o fim em um se conhecer e saber agir com esta, para que as virtudes não sejam corrompidas.
A paixão é um juízo da razão; o sábio é aquele que exerce de maneira certa o uso das paixões.
Há a função do passional com o intelectual no modo de ser do homem.
As características fundamentais do estoicismo:
+ Primazia do
logos que é regido pelo logos que rege a psysis.
+ Ideal sábio: expresso na independência e superioridade à Fortuna, embora submetido ao destino.
+ Universalismo estóico: Sábio supera as particularidades (Não é afetado pelas contingências da vida humana) Surge a idéia da igualdade de todas em face da natureza universal (lei natural).
+ Idéia do dever e a interioridade que aprofunda o "conehce-te a ti mesmo" socrático.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A, B, C, para quê?


O ser professor impulsiona-nos para que sejamos mediadores dialógicos através de uma educação libertadora da alienação; denunciamos o sistema injusto que leva a miséria, e os tantos meios que tornam a verdade escondida atraz da nebulosidade dos interesses neoliberais que escravizam através da violência simbólica. Aprendendo a partir da realidade e re-significando a ação apostamos em uma libertação dos homens pelos próprios homens. (Alexandre José Krul)

A pessoa do professor traz um simbolismo que hoje está degradado pela falta de valorização. Em parte esta degradação brota de um sistema educacional com uma práxis, na maioria das vezes ultrapassada. As teorias são muito bem formuladas, e não carecem da falta espaço social para colocá-las em prática, mas sim de um sistema que as apoie.
Pessoas desconscientizadas da necessidade do estudo para melhorar a qualidade de vida, com novas formas de pensar, com um inteligência desalienada e aberta aos valores da vida e da comunidade, demonstram total desinteresse e falta de prazer em pesquisar, descobrir e criar.

A muito custo o sistema libera algum incentivo às novas práticas educacionais. É mais cômodo governar pessoas silenciosas, e que não criam saídas para a realidade. No Brasil usa-se a lei do adaptar-se; dá-se um "jeitinho" em tudo. Então por que fazer o correto se pode "se adaptar"? No meio político, prevalece os valores subjetivos, que são por sua vez individualistas e degradantes. Pensa-se somente no próprio bolso!
Da parte da maioria das pessoas, há um esquecimento de viver a realidade enquanto tal. Falta sensibilidade e empatia (colocar-se no lugar do outro).
Quantas vezes não nos damos a conhecer ao outro?
Quantas vezes reclamamos que ninguém presta atenção no que falamos e fazemos?
Quantas vezes o desinteresse prevalece?
Quantas vezes o prazer é que domina, e dá a ordem, em vez de que eu e você opte?

A tarefa de ser professor não é fácil! É árdua!
Algumas vezes a descontextualização dos conteúdos leva ao descaso por falta dos alunos; por outras vezes, o descaso é ocasionado porque a matéria não interessa no momento ("é chata") ou porque o aluno está com outras preocupações. Por vezes falta envolvimento. Outras vezes falta interesse, porque não se vê utilidade. E na maioria das vezes falta motivação, concentração e querer aprender.
Aprende-se muito mais na rua, nas rodas de amigos, nas festas, no jogos, no MSN, no orkut! É um aprendizado. Mas é um aprendizado sempre útil também?
Alunos que dizem não encontrar utilidade na matéria, encontram qual utilidade nas brincadeiras e no ócio não criativo? Certamente é o prazer que atrai! O prazer de ser "dono do nariz". A liberdade de optar; de dar um clique e ver acontecer! Mas esquece-se que para que isso aconteça, algum pesquisador, passou horas debruçado no estudo de um projeto e no seu desenvolvimento.
Professores(as), motivamo-nos primeiramente e buscamos desenvolver a educação como algo precioso. O nosso interesse e o prazer estampado no nosso ser, irá convencer e fazer com os outros se interessem pelo que fazemos.
E você aluno(a), quando não se motivou quando viu um professor que faz da reflexão e da pesquisa da sua matéria a sua vida? Certamente quando vemos um professor de verdade, encontramos nele a motivação em pessoa!
Mas a busca do aprendizado, e da retomada dos conceitos para re-aprender é o que nós como alunos queremos? (Não esquecemos que somos no dia-a-dia professores e alunos!)

1.5 - Concepção antropológica de Aristóteles

O ponto de partida para a antropologia de Aristóteles foi o platonismo da psyché, repensado sob a ótica da alma como forma do corpo. O centro da concepção passa a ser a physis (natureza) animada pelo dinamismo teológico da forma (entelécheia) que lhe é imanente, e que como forma ou eidos, é o núcleo inteligível. O fim do agir do homem passa pelo ser o telos.
Agora o mundo ideal que Platão chamava de "mundo das idéias"; poderá ser alcançado pela
theoria. Através da theoria, o ser humano, pode contemplar as realidades transcendentes e eternas.
A concepção antropológica de Aristóteles reune os seguintes traços:
- Estrutura biopsíquica:
psyché - princípio vital (ato ou perfeição = enérgia) de todo ser vivo, a qual compete a capacidade de mover-se a si mesmo (autokinêton) [*psyché do Fredon platônico]
Como todo ser vivo, o homem é um ser composto de psyché (alma) e de sôma (corpo).
Nos livros "Sobre a Alma" (Peri Psyché) encontramos o tratado sobre o princípio imanente do ser vivo que o distingue dos outros seres vivos da natureza; e no qual o homem se diferencia pela sua nutrição, sensação desenvolvida e acima de tudo como ser vivo dotado de intelectualidade.
- O homem como zôon logikón:
O ser humano pertence essencialmente ao âmbito da physis, mas se distingue por ser racional; animal racional (zôon logikón) dotado de logos (fala e discurso), fato que o permite transcender (elevar-se; ultrapassar-se) à natureza (physis).
Aristóteles investiga a racionalidade por meio de três pontos de vista:

(1) Psyché : Estuda a atividade racional que, no homem, eleva-se sobre a atividade dos sentidos externos e internos, como atividade própria do intelecto (nous).
Aristóteles não define se o nous é parte ou algo separado da psyché, mas o divide em duas funções: Receptiva, que está em potência; e ativa que faz com que a potência passe ao ato.
(2) Finalismo da razão:
- Contemplação (theoria): buscada em razão de si mesma e tendo como fim o conhecimento da verdade das coisas. (Matemática, física e filosofia primeira (teologia))
- Ação (praxis): Buscada em razão do bem (agathón) ou da excelência (areté) dos indivíduos e da comunidade. (Ética e Política)
- Fabricação: Resulta da produção de objetos superficiais que tem por finalidade a utilidade e o prazer.
(3) O ponto de vista dos processos formais do conhecimento: Aristóteles reune no livro Órganon, a tradição lógica do pensamento grego, assegurando assim poderosos instrumentos que fazem das ciências o centro do universo simbólico.

- O homem como ser ético-político:
É a realização plena do ser racional. As virtudes da ética encontram o exercício da política.

- O homem como ser de paixão e desejo:
Em linhas gerais a sede de paixão e desejo faz parte da estrutura da psyché, e sua ação é a irracionalidade da psyché que intervém na práxis ética e política (Livro - Ética de Nicômaco)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Toda ação tem reação!




Abro um parêntesis para partilhar com vocês uma reflexão que a dias estou fazendo: Estamos vivendo realmente uma democracia?
Esta reflexão maior brotou de dois outros questionamentos:
  1. Por que preferimos não opinar?
  2. Por que não expomos nossas idéias publicamente?

Através delas cheguei a duas palavras chaves: Relativismo e omissão.
Relativismo porque "tanto fez, tanto faz" eu(nós) opinar ou não.
Omissão porque estamos acostumados a deixar os outros decidir por nós.

O que vejo é que poucas pessoas pensam realmente no "nós", no "comum a todos", em fazer um "bem pensando na sociedade em geral". Enquanto tantos de nós nos omitimos, há os "expertos" (funsão de experts com espertos) que aproveitam das idéias empreendedoras de "ajudar as pessoas", para tirar benefício próprio.
Através de uma retórica discursiva invejável a qualquer sofista dos tempos de Sócrates, estes "expertos" fascinam os "relativos" e os "omissos". Estes, caso sejam interpelados diretamente, argumentam que "não tem nada que podemos fazer", "o Brasil está uma roubalheira", "os políticos não tem vergonha na cara", etc, etc, etc.
"Tchê"!! Vamos "abrir o olho"! Vamos pensar juntos! Vamos colocar em comum nossas idéias! E vamos usar o poder que temos, que é a Democracia!
Tanto se lutou para que todas as pessoas tivéssem direito ao voto; para que existisse uma lei que diga que todos somos iguais perante a lei; para que tivéssemos liberdade de expressão; enfim tantos outros direitos.
Está na hora de agir, pois o principal nós adquirimos, que são as leis; agora temos que fazer com que as leis se cumpram, e todos nós sabemos que "a voz do povo" faz as leis se cumprirem e que mudem, caso estejam sendo injustas.
Está na hora de chutar para longe a alienação, que traz consigo um discurso dizendo: "a vida é curta";"devemos aproveitar o momento"; e gerando uma busca pelo prazer momentâneo; um individualismo que não traz prazer nenhum.
O individualismo faz com que tenhamos estresse, desconfiança, omissão, relativismo, realismo que acaba com os sonhos...Você quer continuar "assinando embaixo" as 'salafrarices'?
A prática democratica está soterrada pelos escombros da falta de autonomia do pensar e do agir. Há quem pensa por você, a quem decide por você; para que você vai se encomodar se a vida é "tão curta"!?? "Prazer , libertinagem, ficar (usar)! Cada um tem sua vida, faz o quer (na maioria das vezes até mesmo sem pensar, porque senão nem iria estar fazendo), ninguém paga as contas dos outros!
Para alguns leitores, posso estar apenas tornando público o que foi pensado muitas vezes no seu íntimo, mas não teve coragem de partilhar; para outros esta reflexão pode ser um "despertar".
Somos sujeitos que vivemos com os outros sujeitos. Todos somos sujeitos de uma sociedade comum.
O existencialismo, num tempo de servidão, trouxe a tônica da valorização do sujeito individual, que tem direito a liberdade, mas com certeza não esperava que isto tornaria-se um individualismo alienante.
Como se diz a lei natural: "Toda ação tem reação!"

1.4 - A antropologia platônica

Possui sua síntese na Realidade das Idéias, na qual se fundem: a relação do homem com o kósmos (pré-socráticos), o homem como ser de cultura política – Paidéia (Sofistas) – e do “homem interior” e da “alma” – psyché (Sócrates). A Realidade das Idéias é a ordenação transcendente que implica a vida da alma (psyché) na sua condição terrena.

* O tema do logos é tratado nos seguintes Diálogos: Apologia, Criton, Menon, Fedon. Menon anuncia a teoria das idéias e Fedon expõe a teoria das idéias.

Teoria das idéias – horizonte segundo o qual são pensados a origem e o destino da “alma” (mito da preexistência e doutrina da imortalidade) e para o qual a “alma” permanece essencialmente voltada pela “reminiscência” (anámnesis) e pelo imperativo da “purificação” (kátharsis) – Natureza da alma congênita com o mundo das idéias (mito do Fredo).
EROS = pulsão amorosa – elemento essencial da visão grega do homem.
- Eros oposição ao logos = Dimensão do corpo e da beleza.

* No Banquete logos e eros são equilibrados pela contemplação intelectual e extática do Belo Absoluto.

A obra "República" de Platão – trata tricotomia da Alma (racional, irascível econcupsível), na qual a justiça é a virtude principal, regida pela sabedoria (sophía), coragem (andreia) e a moderação (sophosyne).

A República transpõe ao plano da Paidéia (educação do indivíduo para a vida política justa) antes sendo a educação contemplação das Idéias de Belo e do Bem.
No final desta obra desponta-se a idéia socrática de responsabilidade pessoal, em que acontece a vitória da liberdade sobre o destino.
O pensamento de Platão muda a herança cosmológica da filosofia pré-socrática (imanente ao movimento cósmico) assumindo uma atitude antropológica (finalismo da inteligência). Esta atitude antropológioca apresenta a a "alma" movendo-se a si mesma e como "princípio do movimento", não mais sendo movida por uma força fora dela.
Segundo a antropologia do Timeu, o homem é considerado uma conjunção da "alma" e do corpo, com uma inteligebilidade da "alma", ou "alma racional" que harmoniza os movimentos interiores.
Diálogos de Platão:
República - educação do indivíduo para a justiça em si mesmo e na cidade;
Banquete e Fedro - desejo amoroso (eros) e o desejo imanente da "alma";
Timeu e o X livro das Leis - o homem na ordem do universo;
Fedon - a relação do homem com o divino;

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

1.3 A transição socrática

Sócrates, considerado o fundador da Filosofia Moral, já que introduz no campo das idéias antropológicas a idéia de personalidade moral, sobre a qual irá assentar todo o edifício da Ética e do Direito na nossa civilização. Como que Sócrates faz essa introdução?
Sócrates diz que o humano só tem sentido e explicação se referindo a um princípio interior, ou seja, uma interioridade presente em cada homem, a “alma” (psyché), mas agora com um nova significação, alma como sede da areté (excelência ou virtude).
A alma que gera a opção que orienta a vida segundo o justo ou o injusto – é a alma que constitui a essência do homem.
Traços da idéia socrática do homem:
a) a teleologia do bem e do melhor como via de acesso para a compreensão do mundo e do homem, e sobre a qual se funda a natureza ética da psyché (biografia de Sócrates transmitida por Platão (Fed. 96a-101c)).
b) Valorização ética do indivíduo – “conhece-te a ti mesmo” (Sócrates)* – necessidade de cura e cuidado com a vida interior – antropologia e espiritualidade.

* Interpretação socrática – investigação metódica (ironia, indução e maiêutica – 3 momentos do método socrático) leva à sabedoria e à verdadeira areté (teoria da virtude-ciência).

c) Primazia da faculdade intelectual – intelectualismo socrático – [1]exalta o homem como portador do logos e [2]coloca como fundamento humano a relação dialógica – homem zoôn logikón – [3]ultrapassa o utilitarismo sofístico com o finalismo moral com a noção de bem trazida pela areté.
*Também vemos a contribuição da medicina grega que influenciou os Sofistas e Sócrates, depois Platão e Aristóteles. A medicina grega reivindicou, contra especulações cosmológicas jônicas, um tratamento empírico, anatômico e fisiológico do corpo humano, devendo-se ver aí uma das origens da noção de “natureza humana” (he anthropinê physis).


terça-feira, 9 de outubro de 2007

1.2. A concepção do homem na filosofia pré-socrática

O primeiro autor representativo do pensamento antropológico é Diógenes de Apolônia, que traz a seguinte imagem do homem: [1]superioridade exaltada no homem sobre os outros animais, que se manifesta na estação vertical e na marcha, e no olhar voltado para o alto, mostrando assim, a aptidão do homem para a contemplação dos astros, revelando-se uma correspondência entre o olhar humano e a ordem cósmica (esta é uma fortuna da idade clássica – o fundamento religioso diante do kósmos) e; [2]celebra-se a habilidade das mãos (téchne) e a linguagem (logos). O homem possui uma estrutura corporal-espiritual cuja natureza se manifesta na cultura, através de suas obras. E possui seu coroamento na capacidade de ser um ser capaz de ordenar-se em si mesmo e capaz , de certa forma, ordenar o kósmos.
Diógenes – linha de transição entre:
Primeira filosofia pré-socrática que tem como problema da physis e a busca do princípio (arché) – movimento e vir-a-ser.
A individualidade do homem abriga-se na physis e na ordem do mundo.
O homem segundo a ordem da natureza expressa-se homologada entre a ordem do mundo e a ordem da cidade (macrocosmo e microcosmo).
No século V aC. O problema antropológico sobrepõe-se ao problema cosmológico na filosofia grega, fruto de duas reflexões filosóficas:
a) problema da educação (Paidéia); areté política sobre a areté guerreira.
b) Problema da habilidade ou sabedoria (sophía) que não encontra mais sua fonte na tradição e vê acentuar-se a técnica (téchne) e a intelectualidade (philosophía).
* Primeiras indicações destes problemas encontram-se em fragmentos de Heráclito de Éfeso (500 aC.).
Somente os Sofistas que irão consumar a inflexão antropológica da filosofia grega, na designação de sophistês que engloba o saber teórico e as habilidades práticas.. Foram eles que colocaram o problema da cultura (Paidéia) como problema maior da Filosofia. A origem e o desenvolvimento da cultura serão pensados em dois modelos:
a) modelo da decadência – mito de uma idade de ouro primitiva.
b) Modelo do progresso – passagem do estado de barbárie ultrapassado pela fundação das cidades (herói fundador) e pela invenção das técnicas (Primeiro inventor – prôtos euretés).
O homem e suas capacidades passam a ser objeto principal da filosofia.
A sofística ateniense formula as seguintes concepções ocidentais do homem:
a) O conceito de natureza humana (anthropinê physis);
b) O conceito de narração histórica pela investigação, seriação e julgamento dos fatos, na qual emergem a consciência do pluralismo das culturas (Heródoto) e se revelam e fins do agir humano em situações típicas (Tucídides);
c) A oposição entre a convenção (nómos) e a natureza (physis) na organização da cidade e nas normas do agir individual (origem as primeiras teorias do convencionalismo jurídico).
d) Individualismo relativista (primeiras formulações céticas do conceito de verdade).
e) A concepção de um desenvolvimento progressivo da cultura (mito de Protágoras, de Platão).
f) A análise do homem como ser de necessidade e carência (cultura supre a carência natural).
g) Idéia do homem como ser dotado de logos (zoôn logikón).

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

1.1 A concepção do homem na cultura arcaica grega


Principais influências da cultura arcaica grega na cultura ocidental:

- Linha teológica ou religiosa: traça uma divisão e oposição entre o mundo dos deuses (theoí) e o mundo dos mortais (tharatoí). Deuses são imortais (atháratoi) e bem-aventurados (eudaímones). Homens são efêmeros (ephémeroi) e infelizes (talaíporoi).

- Linha cosmológica: o homem contempla a ordem do mundo e o admira. As características principais são: a admiração (thauma) pela ordem e beleza do universo visível (kósmos). * Desta admiração origina-se a Filosofia grega e o estilo de vida teorética (theoretikós bios), segundo testemunho de Platão e Aristóteles; a descoberta da homologia que deve reinar entre a ordem do universo (kósmos) e a ordem da cidade (polis) regida por leis justas, fonte grega de uma ciência do agir humano, a Ética.

Observação: Neste momento o desafio da Filosofia é conciliar necessidade cósmica e a liberdade humana.

- Linha antropológica: a condição humana apresenta-se nas experiências humanas fundamentais e a relação do homem com os deuses, ou seja, a oposição entre o apolíneo e o dionisíaco (tema tratado por Nietzsche), representado na Tragédia.
Apolíneo – lado luminoso, presença ordenadora do logos na vida humana, orientando para a claridade do pensar e do adir razoáveis.
Dionisíaco – lado obscuro ou terreno onde reinam as forças desencadeadoras do eros (desejo e paixão).
Pontos tratados por esta linha:
1 – O conciliamento destas realidades é tarefa da Filosofia. (tema do Banquete de Platão).
2 – Alma – sopro (psyché) = dublê do corpo em Homero e, Alma – entidade separada do corpo e nele reencarnando-se em sucessivas existências (metersomatôse) – representação religiosa-metafísica no Orfismo.
3 – Vida social e política é marcada pela idéia de “excelência” (areté) – imagem do herói dotado de areté guerreira, passando após à areté civilizadora, herói fundador da cidade (hêros ktistês).

Areté passa a ser vínculo de justiça(dikê); e o herói fundador passa a ser o herói legislador (nomotéthes); e após junta-se o ethos laborioso (trabalho rude nos campos) como virtude.

As linhas que compõe a imagem do homem na cultura grega arcaica encontram um ponto de intersecção e convergência no tema do destino (moira) que se distingui em dois tipos de pensamento numa passagem da visão arcaica do homem para a visão clássica* :
- Arcaica: o pessimismo = desamparo do homem e o orgulho.
- Clássica: o moralismo = responsabilidade pessoal e poder de escolha.

* Tema tratado por Nietzsche.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

1 - A concepção clássica do Homem

O termo “clássica” remete-nos a cultura grega arcaica que floresce nos séculos VIII e VII aC., que após será herdada por Roma, constituindo a cultura clássica greco-romana. Foi esta que forneceu à civilização ocidental sua primeira e permanente constelação de ideais e valores.

* A Filosofia é criação típica do espírito grego.

A concepção do homem na filosofia, elaborada pela cultura clássica apresenta uma imagem do homem com dois traços fundamentais:

1- O homem com animal que fala e discorre (zôon logikón) – “animal lógico”.

2- O homem como animal político (zôon politikós).

Esses dois traços possuem correlação no logos, momento em que entra em relação consensual com seu semelhante e é capaz de instituir comunidade política.

A vida política (bios politikós) é a vida humana por excelência, segundo a concepção clássica, exercida mediante a submissão ao logos codificado em leis justas (nomoi).

O homem logikón e o homem politikón se manifestam em atividades de contemplação (theoria) e atividades do agir moral e político (praxis).

A harmonia da theoria e da praxis gera um dos problemas fundamentais que a concepção clássica do homem propõe resolver.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Direito do cidadão versus manipulação ideológica


A educação no estilo de ensino-aprendizagem dos povos primitivos era baseada nos costumes culturais e no valor e sustento da comunidade. Com a evolução dos tempos o homem começa a socializar-se e a divisão de classes põe o saber nas mãos da classe dominante. O ensinar inicia-se a partir do ensino de técnicas de fazer, enquanto o ser tinha suas bases na educação familiar.
A sistematização da educação começa a tomar suas formas inicialmente na sociedade grega e depois na sociedade romana. A educação encaminha-se pela história como o ato de formar o indivíduo para viver na comunidade, passando para a formação do cidadão da polis grega. Na sociedade romana, que na sua evolução segue o estilo grego, vemos o desenvolvimento do homem político.
Com a constante evolução da organização social, juntamente com o estilo de educar surge a divisão de classes, e a educação passa a ser usada em favor da classe dominante.
A educação estrutura a sociedade, ao mesmo tempo em que a sociedade estrutura a educação. Nesta dialética constante é que se chega aos tempos em que a educação fica nas mãos do poder e da economia, servindo aos interesses capitalistas e atualmente coloca-se sob domínio do neoliberalismo que aposta cada vez mais numa sociedade civil descentralizada do poder público.
Por meio deste breve resgate histórico dos caminhos da educação através dos tempos, vemos o quanto a educação evoluiu. Essa evolução apresenta uma complexidade enorme, pois a educação evolui de uma aldeia tribal que ensinava e aprendia sobre o modo de viver e se organizar de determinado grupo de pessoas para uma educação para viver a cultura global em que o conhecimento é re-elaborado a todo o momento e a uma miscigenação cultural que possui seu cerne na ideologia neoliberal consumista, hedonista, apresentando paradigma de dominante e dominado economicamente.
A educação evoluiu de um estilo de educação prática que determinava resultados rápidos no desenvolvimento da pessoa, para uma educação sistematizada, onde a teoria evolui diariamente e prática fica presa a manipulação ideológica da classe dominante.
A organização e a garantia do equilíbrio das relações humanas na sociedade está assegurada através da justiça, em que a lei torna-se a mediadora dos direitos e deveres de cada pessoa.
Outro fato que não nos deve passar em branco é o de que a educação desde os seus primórdios sempre foi fragmentada, basicamente sob os interesses do poder econômico.
Mesmo sob o controle ideológico a elaboração e validação de uma lei sempre da nova esperança ao cidadão, que vê na lei a segurança de seus direitos.
Através da evolução vimos que o homem, organizado em sociedade, já deu grandes passos, mas que constantemente á uma exploração de ambos os indivíduos, através de uma busca de interesses pessoais baseados na dominação do saber e da economia.
A educação poderia ser melhor e mais organizada, sem sombra de duvidas, mas acontece que através dos tempos o próprio homem se corrompeu, e hoje ele mesmo está escravo de seu próprio hedonismo.
A aplicação da educação no Brasil colonizado estabeleceu uma cultura imposta de fora à moda européia portuguesa. Desde aquela época até hoje muito já se conquistou e se desenvolveu, e como o modo de organização e garantias e deveres possuem a base no direito, na “sociedade formal” somente é válido como lei os pressupostos estabelecidos na “lei formal”, que é a lei escrita.
Portanto os passos já estão sendo dados concretamente rumo a democratização do ensino, por isso que o autor coloca que cada nova lei causa uma ânsia esperançosa de mudanças, embora ela esteja “corrompida” pela ideologia neoliberal.
Outro detalhe que deve ser observado é o fato de que toda lei emana do poder público que é o agente de transformação e desenvolvimento da sociedade e do cidadão, só que o cidadão está inconformado com esta realidade pública corrompida, mas não está encontrando a solução para mudar esta realidade, porque está preso na trama de uma estrutura política e econômica que está nas mãos de uma minoria que monopoliza o poder e que da as cartas nos rumos futuros.

* Resenha com base no texto de Antonio Joaquim Severino: “Os embates da cidadania: ensaio de uma abordagem filosófica da nova lei de diretrizes e bases da educação nacional”

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Conhecimento "Made in Brazil"



Acordei empolgado para ler uma reportagem de Perrenoud, sobre competências a serem desenvolvidas pelos professores. Ao terminar a leitura, tive a certeza de que Perrenoud, Vigotsky, Piaget, etc, possuem uma visão fora da prática real educativa brasileira. Parece-me que os pensadores brasileiros em vez de usarem dos estudos destes pensadores internacionais, para confrontar a nossa educação com a educação destes outros países, apenas pegam as idéias como regras, e querem aplicar aqui, esquecendo que temos grandes nomes no nosso país. A Educação se faz através do estudo da realidade nacional. Temos que saber o que pensadores do mundo inteiro falam sobre a educação, para podermos confrontar nossos conhecimentos. Por exemplo, Perrenoud trabalha na faculdade de Genebra, na Suíça ! (Ele é um grande pensador; cito-o apenas como exemplo.) Me diga, que visão um suíço, que mora em um dos países mais desenvolvidos do mundo, possui da educação brasileira e da realidade do nosso país!? Penso que temos que valorizar mais os estudos e as práticas da "indústria nacional de conhecimento". Valorizar mais nossos pensadores. Somente usando do conhecimento importado, estou certo de que continuaremos dependentes; apenas reprodutores e praticantes do pensamento exterior. Até quando valorizaremos mais o pensamento internacional? Nós pensadores brasileiros devíamos deixar de lado o seguinte pensamento: "tudo que é pensado e produzido aqui é de menor qualidade!". (devemos acabar com o vício de menosprezar nossa inteligência) Desta maneira nós mesmos nos auto rotulamos como incompetentes! Creio eu, que o advento do pensamento brasileiro necessita do confronto do conhecimento que vem de fora com o que nós produzimos. O confronto dos conhecimentos gera novos conhecimentos. Isto é re-pensar. É aprender e re-aprender. Temos conhecimentos e experiência de qualidade, e que estão dando certo, com resultados positivos. O que fez o Japão depois da Segunda Guerra Mundial se não usar do investimento tecnológico para desenvolver uma indústria com valores japoneses? O povo brasileiro ainda não entendeu que o desenvolvimento deve partir de dentro para fora? O conhecimento e a tecnologia internacional deve fomentar o pensamento, e despertar o nosso conhecimento. O conhecimento global parece-me ser o trampolim para o desenvolvimento “Made in Brazil”.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Self-Government

Você está acostumado a tomar decisões?

Estavamos tomando um decisão muito importante no nosso grupo, e já tínhamos um planejamento desenvolvido. Foram horas de debates e opiniões; todos os membros estavam satisfeitos com a elaboração do mesmo, até que um outro colega resolveu participar do nosso grupo.
Ele tinha idéias diferentes, e muitos componentes do nosso grupo que pensavam estar fazendo um ótimo trabalho, passaram a mudar de idéia por causa das idéias desta outra pessoa.
Quantas vezes a opinião de outra pessoa influência diretamente seu modo de pensar?
Você muda de idéias assim como muda de camisa?
Existe uma força de coação que impede você de tomar suas decisões?
Mas você se diz livre para decidir!
Decidir envolve o desenvolvimento de idéias interiores. Que autonomia de pensamento e decisão é esta que somente recebe e aceita idéias exteriores, e o faz "dançar conforme a música"?
A autonomia do pensamento, segundo Piaget, possui sua fonte no pensamento livre fundamentado na cooperação, solidariedade e reciprocidade.
A autonomia não é construída através de coação e dependência.
Podemos, e devemos, balizar nossas decisões em regras, respeito mútuo e cooperação, mas jamais agir de determinada forma, por medo de tomar as próprias decisões.
Você opta por comer seu cachorro-quente com ou sem mostarda?
Você esta comprando cachorro-quente. Está decidido não comer mostarda, já que não combina com o seu paladar. Do seu lado chega um amigo, que pede um cachorro-quente com bastante mostarda, olha para você e diz: "Você não gosta de mostarda!? É muito gostoso!" Você titubeia e pede bastante mostarda também!?
Creio que não!
Geralmente crescemos optando pelo que queremos comer. Estou usando o exemplo do cachorro-quente, mas poderia estar usando qualquer outro exemplo. Em vez de cachorro-quente, tente imaginar outros tipos de decisões que fazem parte do seu dia-a-dia.
A vida exige autonomia, não somente que opções relativas a paladar, moda, estilo de música, leitura ou filme, etc, mas acima de tudo AUTONOMIA DO PENSAR. Autonomia do pensar, envolve o próprio pensamento e a ação; é inaceitável sujeitos que sejam robos e papagaios.
Importante salientar que autonomia não pode ser confundida com libertinagem, irresponsabilidade e desrepeito pelas idéias dos outros.

"A pessoa é moralmente autônoma se, apesar das mudanças de contextos e da presença de pressões sociais, ela permanece, na prática, fiel a seus valores e a seus princípios de ação. Assim a pessoa heterônoma será aquela que muda de comportamento moral em diferentes contextos" (La Taille)

A autonomia exige "self-government", ou seja, auto-gestão da sua vida. Você (e mais ninguém) deve optar (decidir). E esta auto-gestão exige fundamentação em valores internos. Valores que são construídos desde que somos crianças. Isto não quer dizer que a criança deve ser "dona do próprio nariz", pois o adulto estaria abdicando do seu papel fundamental que é o de construir junto com a criança um pensamento democrático, responsável e maduro.
Através da cooperação e do respeito mútuo, o sujeito aprenderá a desenvolver valores, não apenas aceitar regras prontas, que carecem de significado pessoal.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Existência enigmática - Parte 4


Certamente a vida é um enigma tão grandioso quanto a morte. Não pedimos para nascer e não pedimos para morrer. Nascemos e morreremos! Que farei da minha vida? Posso optar! A opção é que torna a vida dinâmica. Imaginou você viver e não poder optar? Não existiria sentindo vivermos uma vida que estivesse pré-estabelecida. Você já pensou que cada opção, por menor que seja, é capaz de mudar sua história? Ontem eu fiz uma opção bem interessante! Caminhei até a esquina e decidi: Vou dobrar para a esquerda. Automaticamente meu “banco de dados” traçou o caminho que me levaria até a casa do meu padrinho. Dificilmente isto aconteceria se eu quisesse ir para um lugar que eu não conheceria anteriormente. Temos maior dificuldade em optar quando não conhecemos o final da opção (onde ela nos levará). Quando dobrei a esquerda fiz a opção de parar na calçada e deixar um carro passar pela rua. Na próxima esquina, optei em não passar por baixo de umas árvores que lá estão, pois elas são os abrigos das pombas. Nem você gostaria de chegar em um aniversário com uma “mancha branca” na camisa preta. Quereria? Ah! Lembrei: Optei por ir de camisa preta. E se eu estava caminhando, chegamos a grande conclusão de que optei por ir andando, embora você não saiba se eu tenho um automóvel ou não. Mas isto não vem ao caso. Cada passo que eu dava, eu optava. (Você está pensando que sou louco? Pois seja lá qual for sua conclusão, jamais irá me impedir de optar!) As rua estavam calmas, era domingo 9h e 45min. O caminho pelo qual optei, tive que cruzar ao lado do hospital. Na esquina do hospital tem uma farmácia, pessoas estavam comprando remédio. Levantei o olhar e vi pessoas na sacada do quarto do hospital. Baixei o olhar e vi pessoas tristes em frente da funerária. Olhei para a esquerda e vi pessoas sentadas em frente ao Pronto-Socorro. Caminhei mais uns 20metros, e vi outras sentada na lanchonete. Quando cheguei em uma ponte, li uma placa: “Preserve o Rio Pesseguerinho! Viva melhor!” Olhei para dentro do Rio, vi uma bacia de plástico boiando, e mais uns outros lixos nas margens. Por mim passou duas crianças de bicicleta, e elas sorriam. E assim continuei minha caminhada: Pensando, e optando a cada passo.